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Um blogue sobre comunicação inteligente
Eleições e comunicação
É público como Bolsonaro foi segregado pelos media tradicionais e desprezado pelos politólogos, peritos e de mais elites que tomam conta dos media brasileiros, de como os seus opositores, apoiados nas televisões e jornais de referência, acabaram por cair na asneira de transformar as eleições presidenciais no Brasil num plebiscito ao personagem que de tanta depreciação acabou por alcançar 47% do eleitorado à primeira volta. Foi assim que Trump conquistou a Casa Branca. Interessa-me particularmente este assunto na perspectiva do fenómeno comunicacional de que é fruto, o da perda abismal de influência da comunicação social perante a ascensão das libertárias redes sociais, qual concurso de “soundbites” imediatistas e emocionais que democraticamente todos se arrogam difundir, partilhar e ampliar numa caótica e atomizada rede de influenciadores oficiosos e sem escrutínio. É assim que a comunicação política hoje exige nova abordagem, diferentes estratégias, ferramentas e actores profissionais, porque a ampliação ou silenciamento da mensagem já não depende do controlo dos tradicionais “mediadores” e ela se vem tornando formalmente cada vez mais democrática – literalmente entregue às mãos do povo. O que me preocupa este fenómeno é como sendo democrático pode potenciar a intolerância: pela necessidade de simplificação das ideias e torna-las emotivas para concorrer nas redes sociais, o discurso perde densidade, racionalidade e sofisticação que é o espaço por excelência para os consensos e para a tolerância que exige a boa governança do bem comum numa sociedade liberal.
Quem me conhece sabe como o meu pensamento político nunca foi mainstream e de como desde a génese deste fenómeno da auto-edição nascido com os blogs no apogeu da Internet não deixei de aproveitar o movimento para difundir ideias pouco populares às agendas do jornalismo “de referência” que sempre gostou de servir a oligarquia e alimentar os seus populismos. Mas tal não impede de admitir que devemos suspeitar deste admirável mundo novo, de como ele nos exige prudência, repensar fórmulas de contrapesos que nos defendam dos aventureirismos autoritários emergentes de maiorias inorgânicas e indomáveis bem manipuladas. Os revolucionários (todos, republicanos ou socialistas) sabem bem do que estou a falar.
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A fractura exposta por Cristiano Ronaldo
Há um elefante gigantesco e malcheiroso no meio da sala para o qual a opinião publicada continuar a evitar olhar: são os prejuízos reputacionais que o caso Ronaldo infringe nas entidades que dele se vêm servindo para se projectar há mais de uma década. O que é facto é que independentemente da possibilidade de condenação ou não do craque por violação de Kathryn Mayorga, o caso descrito pelo Der Spiegel é demasiado feio para o país que durante mais de uma década da sua fama tanto se promoveu dele sair incólume. Isso ajuda a explicar as declarações complacentes (a raiar a irresponsabilidade) de Marcelo Rebelo de Sousa e o silêncio daqueles que viam no “melhor do mundo” o representante duma nova geração para competir com Eusébio no Panteão do heroísmo nacional e internacional - lembrem-se do jovem indonésio Martunis sobrevivente ao tsunami e de outros milhares para quem o ídolo se arrisca a desfazer rapidamente em barro enlameado.
Independentemente do modo como Cristiano Ronaldo se saia deste imbróglio de dimensão global, nele já se vislumbram perdedores evidentes e um deles é o patriotismo pacóvio. E pelo andar da carruagem receio que o aeroporto da Madeira ainda venha a mudar de nome e o museu do Sporting tenha de ser reconfigurado. É assim a vida hipermediatizada destes nossos ingratos tempos: é chato mas o Eusébio viveu noutra época e a idolatria nos nossos dias dá inevitavelmente nisto.