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Expresso - 40 anos

Sábado, 05.01.13

Ontem numa reportagem na SIC notícias a respeito do 40º aniversário do Expresso, o seu director Ricardo Costa arrogava esfusiante o seu jornal como o semanário dos “Sábados amargos” (subentendidamente de Miguel Relvas), assumindo que o seu papel é de contrapoder, nas suas palavras de “contrabalanço dos abusos dos excessos que a democracia proporciona”. Perece-me óbvio que ao contrário de se pretender contrapoder (um papel que a oposição em geral e o Bloco de Esquerda em particular exerce com requintada competência) cabe a um jornal sério investigar a verdade, seja ela a favor ou contra “o Poder”. Aliás acontece que a Comunicação Social constitui em si um disputadíssimo Poder, o quarto como se lhe usa chamar, e talvez não fosse má ideia incluir os sucessos e insucessos da História no seu balanço de aniversário. Sobre esse ponto de vista e nesta altura do campeonato, talvez Ricardo Costa e Nicolau Santos não tenham assim muitas razões para tanta euforia.
Na edição de aniversário deste histórico hebdomadário nacional - que como bem salienta Henrique Raposo na sua coluna, se confunde com o actual regime - uma das melhores crónicas está escondida na página 53 em forma de carta, pela pena de António Barreto. A determinada altura reza assim: (…) Um semanário tem mais responsabilidades na actividade de “desvendar” os factos opacos ou “misteriosos” do que os diários ou as televisões. Muito do que se passa na sociedade e na política é totalmente incompreensível se não for devidamente tratado e esclarecido. As causas concretas da dívida portuguesa e o deficit dos anos 2005 a 2013, por exemplo ainda estão hoje razoavelmente encobertas. (…) Toda a comunicação social está orientada para o espectáculo e encenação, quando não para a propaganda. É indispensável contrariar essa tendência, o que já se percebeu em Portugal não acontecerá com os Diários, muito menos com as televisões.
É aqui que está o busílis da questão. Estranho, de facto, como um tão atendo e sofisticado “contrapoder” como o Expresso, tenha atravessado a última década de ruina num plano inclinado de indolência e alienação, quando não em absoluta cumplicidade com as oligarquias conservadoras (dos seus crescentes privilégios) que nos trouxeram a este trágico desígnio.
Neste dia em que se celebram quarenta anos do mais reputado jornal deste País que se afunda numa das mais graves crises da sua História, seria aconselhável, ao invés de estéreis troca de gabarolices e de galhardetes entre os seus protagonistas, uma séria análise de qual deverá ser o seu papel no futuro, se ser agente activo no jogo de recados da baixa intriga sectária e fulanista, ou reabilitar o merecimento do seu histórico estatuto nobiliárquico, coisa que sem uma clara mudança de estratégia, se ficará como isso mesmo: um estatuto, que o arruinado e excêntrico fidalgo levará para a sepultura do esquecimento. 

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publicado por João Távora às 18:00


3 comentários

De João Rebocho Pinto a 06.01.2013 às 12:26

Completamente de acordo com a oportuna chamada de atenção, a qual, na minha muito modesta opinião, apenas peca por recordar outra figura - António Barreto - cujo percurso e posicionamento perante a presente crise me suscita algumas reservas e erupções cutâneas to say the least!
De qualquer forma, nada a dizer sobre o fragmento citado, que me parece inquestionável do ponto de vista da análise sociológica/funcional dos media que temos. Um abraço.

De João Távora a 06.01.2013 às 20:52

Muito gosto encontrar-te por aqui, João! Abraço, falaremos em breve!

De murphy a 07.01.2013 às 16:59

Tenho dificuldade em acreditar nos nossos políticos, mas isso faz parte da democracia...mais preocupante é não poder confiar nos nossos jornalistas...

http://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/01/o-fardo-do-juros-o-chico-espertismo-e-o.html

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Editorial

Gostamos da palavra propaganda, termo velhinho que, simplificando, antigamente definia sem complexos o conjunto de técnicas para publicitar uma ideia. Com o tempo, o termo muito utilizado pelos políticos numa conturbada fase do Século XX resistiu mal ao desgaste pelo sentido que assim se lhe deturpou: como se, realçar as virtudes próprias ou dum objecto, não fosse ambição e atitude legítimas, praticada por qualquer ser humano psicologicamente equilibrado e socialmente integrado. Ler mais

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