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Da privacidade nas redes sociais

Terça-feira, 06.08.13


A verdadeira estrutura da Internet – é sobre pessoas a conversar.”
Jeff Jarvis

 

Confesso que me fascina o tema da privacidade no contexto ao advento das redes sociais que vivemos por estes dias. No que ao assunto refere, numa sociedade securitária como a ocidental, cujos refinados mecanismos de controlo social atingiram o auge há algum tempo, são de ter em conta sensibilidades diferentes, acentuadas mais por questões filosóficas do que outras mal sustentadas.
Democratizado o acesso às múltiplas plataformas de auto-edição online, dos blogues à popular rede social Facebook, passando pela edição, arquivo e partilha de fotografia (Flikr ou Instagram) ou audiovisual (Youtube ou Vimeo), concedo que o mesmo não aconteceu com o bom senso do qual como se sabe cada um tem a sua noção e medida. Um problema de facto: para muitos utilizadores, o desafio acaba por estar em saber o que não se deve publicar (no sentido de por em comum) cuja norma depende do bom gosto de cada qual - que é coisa que aliás não se discute. Aqui chegados, é inegável que a revolução tecnológica a que hoje assistimos entregou ao cidadão comum ferramentas de comunicação com o potencial de competir ombro a ombro com qualquer produtora de televisão clássica. Assim como hoje em dia, um blogger qualquer, com arte e engenho pode facilmente constituir uma plateia de leitores mais numeroso do que aqueles que o seguiriam num jornal de referência.
Os milhões de gigabytes de conteúdos, em texto som ou imagem, que a cada hora são publicados por gente comum na rede mundial de informação digital, a simples geolocalização automática que as engenhocas portáteis proporcionam, transformaram o conceito de comunicação e definitivamente a própria Internet. Isso assusta muita gente que dificilmente entende a lógica deste enorme turbilhão de informação e criatividade humana em que vivemos… donde os melhores inevitavelmente sobressairão, livres de intermediações duvidosas. O desconhecimento promove mitos... e o medo é mau conselheiro. Citando o jornalista Jeff Jarvis em entrevista ao jornal Público em novembro do ano passado, "Até 1890 não havia discussão a sério sobre as questões legais de privacidade nos Estados Unidos e aconteceu por causa da invenção da câmara Kodak – as pessoas tinham medo que se pudesse tirar uma fotografia e aparecerem."
Tenho a impressão que hoje acabamos todos por ceder um pouco na privacidade para usufruirmos de mais liberdade. Sou dos que assina de nome completo as opiniões na net, e assume uma exposição bastante transparente nas redes sociais, onde não me coíbo de partilhar muita informação pessoal e profissional. E confesso que pouco me importo que o Google ou o eBay  “conheçam” os meus gostos ou o meu histórico de consumo.
Como refere Jeff Jarvis “Viver em público não mostra apenas que temos pouco a esconder; mostra que temos pouco a temer”, ademais, “quanto mais pública uma sociedade for, mais segura será.”
De resto um ribeiro continuará algures a correr indiferente, com a água borbulhando enremoinhada entre as pedras duma colina. O silêncio encontra-se sempre à distância de um interruptor, a serenidade dentro das paredes da catedral e um bom livro espera por nós na prateleira tal como a guitarra pendurada na parede.
Finalmente voltemos à questão da privacidade "perdida": não sei o que há quarenta anos passaria pela cabeça dos nossos avós, quando permitiam o seu nome e morada completa publicados em letra de forma no livro de maior tiragem e mais consultado à época: a Lista Telefónica. Eu, não me atrevo a tanto. 

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publicado por João Távora às 22:16


3 comentários

De Vasco Corisco a 07.08.2013 às 10:38

Excelente análise. Na net agrada-me especialmente a referida inexistência de mediadores dos conteúdos e as portas que isso abre às mentes criativas!

De CJT a 07.08.2013 às 19:25

Uma boa análise à privacidade possível. Mas falta algo, João Távora: a liberdade de escolha. Quero dizer: eu, apesar de utilizador da web, posso querer privacidade, pelos mais diversos motivos. E tenho direito a ela.
Uma pequena nota acerca do assunto, aqui: http://semiose.net/zeitgeist/da-privacidade/20130807.2247.html .
Abraço,
CJT

De João Távora a 07.08.2013 às 20:13

Concordo com o fundamental do que refere, CJT. A liberdade de escolha é fundamental.
Cordeais cumprimentos,

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Editorial

Gostamos da palavra propaganda, termo velhinho que, simplificando, antigamente definia sem complexos o conjunto de técnicas para publicitar uma ideia. Com o tempo, o termo muito utilizado pelos políticos numa conturbada fase do Século XX resistiu mal ao desgaste pelo sentido que assim se lhe deturpou: como se, realçar as virtudes próprias ou dum objecto, não fosse ambição e atitude legítimas, praticada por qualquer ser humano psicologicamente equilibrado e socialmente integrado. Ler mais

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