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Um blogue sobre comunicação inteligente
Sinais dos tempos...
Numa pacífica manhã de sábado hoje passada com rituais nem sempre possíveis, logo depois do pequeno-almoço (em que ao fim-de-semana caprichosamente faço questão de comer torradas com manteiga) fui notificado no meu telemóvel da publicação da crónica do Alberto Gonçalves que li com gosto e divertido no telemóvel, já sentado na sala com boa música por companhia. Após me inteirar e responder a algumas mensagens no WhatsApp (aplicação culpada da vitória de Bolsonaro, dizem), pensei que estava na hora de ir comprar o Expresso, mas fiquei preso pelo artigo sobre o "Mata Sete", aquele hediondo crime ocorrido em 1987, no Observador. A manhã corria plácida, e ainda com o telemóvel na mão e o David Sylvian a tocar deliciosamente no gira-discos, inebriado pelo sol que entrava pela varanda, fui alertado por uma notificação dos e-mails do telefone da mensagem do "Macroscópio" do José Manuel Fernandes que li absorto, navegando por algumas ligações. Serviço público. Foi então que me lembrei de que ainda não tinha comprado o Expresso e que a tabacaria estava a fechar. Foi com algum esforço que contrariei o meu bem estar e fui à rua comprá-lo, agora que vem num inútil saco de papel. Resumindo, está minha tradição com décadas está por um fio. O Pedro Santos Guerreiro é um chato (para dizer o mínimo); e tirando o Pedro Mexia, os Henriques (Monteiro e Raposo) e a desconcertante Ana Cristina Pereira Leonardo, o tom geral do semanário é de uma snobismo bafiento - "nós somos os maiores e a virtuosa ordem do mundo desmorona-se à nossa volta por culpa da internet e das redes sociais". Um conservador é um conservador, mas tem limites. E começo a sentir que este hábito se tornou num imposto à oligarquia.
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150 Anos do Diário de Notícias
Na leitura de “As Vantagens do Pessimismo” do filosofo britânico Roger Scruton chamou-me a atenção a antiguidade da escola secundária High Wycombe Royal Grammar School, frequentada pelo autor, estabelecimento de ensino público (gratuito) fundado em 1542 em High Wycombe, Buckinghamshire. A questão remete-me para o significado e importância da longevidade das instituições e só a título de exemplo, através de consulta rápida na Internet, descubro que a fundação Banco Barclays e a águia representada como seu logotipo ascende ao ano de 1690 e que a origem do reputado semanário londrino The Spectator remonta a 1711.
A resiliência de instituições, organismos e empresas reflecte muito sobre a comunidade de que emanam, e o facto é que em Portugal é corriqueiro que se extingam e substituam a recomeçar zero numa vertigem parola como se não houvera ontem. Irónico como a bandeira do nosso País de quase 900 anos de história tem pouco mais de 100 anos e que, por exemplo, a nossa rádio nacional hoje “Antena um” já tenha mudado de nome e de imagem vezes sem conta desde a sua criação como Emissora Nacional em 1935.
Tudo isto vem a propósito não das consequências da crise do BES, mas das celebrações dos 150 anos que o Diário de Notícias irá completar no final do mês de Dezembro e que, a par com o jornal Açoriano Oriental (1835) e o semanário Aurora do Lima (1855), são os últimos títulos centenários resistentes. Admirador confesso da marca que me habituei a conviver de tenra idade em casa dos meus avós, tenho a confessar que por estes dias já só leio o DN aos Domingos, muito por causa das finas e humoradas crónicas de Alberto Gonçalves que os gritinhos histéricos do Pedro Marques Lopes na página do lado não conseguem ofuscar. Quanto ao mais fui deixando de acompanhar o jornal que na minha fantasia vejo como o tablóide de Viriato Soromenho Marques para quadros médios do funcionalismo público de Lisboa e arredores. Muito pouco para um jornal com tanta história, cujos dados mais recentes apontam para um acelerado declínio de vendas, apesar das diversas restruturações e operações de cosmética efectuadas nos últimos anos.
Tenho para mim que uma marca antiga e com tanta história como a que ostenta o Diário de Notícias possui, só por isso e apesar da crise, uma incalculável vantagem competitiva no mercado da comunicação social. A não ser que dentro daquelas paredes se não tenha sabido preservar e transmitir o capital de saber acumulado que deveriam conferir 150 anos de experiência. E que os seus actuais gestores não saibam merecer esse legado: o Diário de Notícias não é uma marca qualquer.
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Os novos adamastores
Ontem numa crónica publicada no jornal Expresso a ilustrar uma investigação jornalística sobre a alegada política de exclusão de links no Google “a pedido” no âmbito da questão recentemente levantada pelo Tribunal de Justiça da União Europeia do pretenso “direito ao esquecimento”, o seu autor, Miguel Cadete, além de outros equívocos levanta suspeitas sobre a transparência utilizada na indexação de conteúdos daquele motor de busca. Vale-nos como desconto a declaração de interesses que o jornalista evoca ao assumir má vontade com a Google, companhia a que imputa responsabilidades na crise que “fustiga a imprensa há décadas”, com as conhecidas consequências no esforço de adaptação que vem exigindo ao sector.
Como apaixonado desta profissão que tenho como das mais nobres, conforta-me saber que os jornais perscrutam e vigiam toda a sorte de poderes e particularmente uma grande empresa como a Google. Sensível às angústias enunciadas pelo cronista, não posso concordar de todo com as suas crenças e julgamentos, certamente motivados pelo medo, um sentimento o mais das vezes inspirado pelo desconhecimento. Nesse sentido, convém esclarecer que o facto de o motor de busca Google “não ter praticamente concorrência”, como refere Miguel Cadete, se deve ao seu complexo algoritmo, exclusivamente indexado à necessidade e proveito do utilizador e não a qualquer tipo de manipulação obscura. Tal implica que, por exemplo, a sua independência face ao negócio da publicidade constitua um valor crucial e sagrado: os links patrocinados (AdWords), a tal publicidade que segundo o cronista significa “um dos maiores negócios do mundo” (!), aparecem graficamente distinguidos daqueles de indexação orgânica. Depois, agitar o papão duma hipotética utilização abusiva dos dados (interesses) que plataforma Gmail capta nos conteúdos das mensagens para exibição de publicidade “dedicada” (AdSense), parece-me uma falácia, já que a não intervenção humana, para lá de questões éticas, é a única garantia de rentabilização do sistema. Ou seja, o tratamento racional (humano) e sistemático da informação, utilizador a utilizador, requereria uma astronómica quantidade de meios. Não saberá por certo o autor da crónica que o navegador desenvolvido pela Google (Google Chrome) permite configurar o bloqueio de publicidade ou eliminar o registo do histórico de navegação, e que a georreferenciação do utilizador (um dado muito útil em determinadas pesquisas) é meramente opcional.
A maior ameaça ao jornalismo continua a ser o mau jornalismo (seja ele fruto de sectarismo, preconceito ou ignorância), e não deixam de se verificar diariamente lançamentos de novos e ambiciosos projectos de comunicação social que aproveitam as oportunidades concedidas pelas novas tecnologias. Os desafios que estes tempos da Internet colocam à imprensa e à comunicação social em geral, por mais ameaçadores que aparentem ser, têm que ser enfrentados com criatividade e pragmatismo. E quanto a uma regularização racional dos preços da publicidade online e offline, há certamente muito a mudar e reformar pelas partes interessadas, principalmente aquelas que se mantêm presas a arquétipos ultrapassados. Finalmente os motores de busca, como eficazes instrumentos de propagação de conteúdos digitais que são, deverão ser assumidos de uma vez por todas, não como uma ameaça aos jornais mas como uma oportunidade: o factor mais decisivo para uma relevante posição nas pesquisas é a qualidade do conteúdo e a interacção que o mesmo potencia com o leitor. Se eu fosse jornalista considerava tudo isto boas notícias.
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O Observador, ou um grande atrevimento
Hoje o dia nasceu com um novo jornal: de conteúdos abertos, 100% online, com uma linha editorial assumida, chega a ser atrevimento. O desenho é limpo e elegante e de navegação muito ergonómica. Uma equipa de luxo que integra nomes consagrados do jornalismo como David Dinis, Jose Manuel Fernandes, Helena Matos, João Cândido da Silva, com historiadores como Rui Ramos e Fátima Bonifácio. Longa vida ao Observador.
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O facto e a opinião - a outra crise
Factos são factos, mas o que interessa na actualidade é a opinião. O comentário está, aliás, a pôr--se a jeito para uma tese de doutoramento que seja capaz de explicar as vantagens e desvantagens de ter políticos e jornalistas a comentar tudo o que mexe. Os especialistas em saúde, transportes, justiça, etc., aparecem episodicamente para fazer o papel da cereja em cima do bolo.
Opinar passou a ser o mais generalizado dos direitos democráticos, mas a opinião perdeu valor, por ser mais comum e, acima de tudo, por ser pouco ou nada especializada. Bonitos e feios, com o dom da palavra e aparvalhados, sábios e menos sábios, todos fazem parte da ditadura do comentário.
O comentário fez caminho e tornou o facto quase dispensável. Se da comunicação social passarmos para as caixinhas de comentários na Internet, então, na maior parte dos casos, passamos directamente para a pornografia. Por aqui, só com uma peneira conseguimos encontrar provas de inteligência. Ela existe e revela-se com orgulho entre os que assumem a paternidade dos seus comentários. A maioria dos nickname nem consegue opinar, não lhes interessa nenhum debate de ideias, basta-lhes o campeonato dos insultos.
Adiante. É na televisão que se joga a força desta ditadura e aí o professor Marcelo é o mais brilhante comentador político. É uma mistura de Cristiano com Messi e, por isso, é o mais bem pago. É justo. Cada um deve ser pago pelo que vale e os dribles de Marcelo são pura magia. Na televisão Marcelo Rebelo de Sousa é imbatível. Goleia os adversários das TVs generalistas e transforma em amadores os competidores da TV Cabo. Estamos a falar apenas das grandes competições, onde só jogam os políticos, porque em matéria de comentários há ainda uma segunda divisão, onde jogam comentadores profissionais e um ou dois jornalistas, e uma terceira divisão, onde jogam camionetas de jornalistas (eu incluído).
No caso dos políticos, principalmente os que comentam aos fins-de-semana nas televisões generalistas, os seus comentários passam muitas vezes a factos para serem comentados pelos outros comentadores. Já ninguém sabe o que factualmente aconteceu, sabemos todos o que é suposto ter acontecido de acordo com a opinião dos comentadores.
"A Santa Opinião" - Paulo Baldaia, In Diário de Notícias de 25 Agosto
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Desespero de Causa?
Percebe-se o desespero dos jornais “de referência” em perda constante de vendas e publicidade a tentarem tirar o mais rendimento possível das suas edições online, mas julgo que é contraproducente a forma extremada e intrusiva como alguns destacam os anúncios. Para o jornal e para o anunciante.
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Expresso - 40 anos
Ontem numa reportagem na SIC notícias a respeito do 40º aniversário do Expresso, o seu director Ricardo Costa arrogava esfusiante o seu jornal como o semanário dos “Sábados amargos” (subentendidamente de Miguel Relvas), assumindo que o seu papel é de contrapoder, nas suas palavras de “contrabalanço dos abusos dos excessos que a democracia proporciona”. Perece-me óbvio que ao contrário de se pretender contrapoder (um papel que a oposição em geral e o Bloco de Esquerda em particular exerce com requintada competência) cabe a um jornal sério investigar a verdade, seja ela a favor ou contra “o Poder”. Aliás acontece que a Comunicação Social constitui em si um disputadíssimo Poder, o quarto como se lhe usa chamar, e talvez não fosse má ideia incluir os sucessos e insucessos da História no seu balanço de aniversário. Sobre esse ponto de vista e nesta altura do campeonato, talvez Ricardo Costa e Nicolau Santos não tenham assim muitas razões para tanta euforia.
Na edição de aniversário deste histórico hebdomadário nacional - que como bem salienta Henrique Raposo na sua coluna, se confunde com o actual regime - uma das melhores crónicas está escondida na página 53 em forma de carta, pela pena de António Barreto. A determinada altura reza assim: (…) Um semanário tem mais responsabilidades na actividade de “desvendar” os factos opacos ou “misteriosos” do que os diários ou as televisões. Muito do que se passa na sociedade e na política é totalmente incompreensível se não for devidamente tratado e esclarecido. As causas concretas da dívida portuguesa e o deficit dos anos 2005 a 2013, por exemplo ainda estão hoje razoavelmente encobertas. (…) Toda a comunicação social está orientada para o espectáculo e encenação, quando não para a propaganda. É indispensável contrariar essa tendência, o que já se percebeu em Portugal não acontecerá com os Diários, muito menos com as televisões.
É aqui que está o busílis da questão. Estranho, de facto, como um tão atendo e sofisticado “contrapoder” como o Expresso, tenha atravessado a última década de ruina num plano inclinado de indolência e alienação, quando não em absoluta cumplicidade com as oligarquias conservadoras (dos seus crescentes privilégios) que nos trouxeram a este trágico desígnio.
Neste dia em que se celebram quarenta anos do mais reputado jornal deste País que se afunda numa das mais graves crises da sua História, seria aconselhável, ao invés de estéreis troca de gabarolices e de galhardetes entre os seus protagonistas, uma séria análise de qual deverá ser o seu papel no futuro, se ser agente activo no jogo de recados da baixa intriga sectária e fulanista, ou reabilitar o merecimento do seu histórico estatuto nobiliárquico, coisa que sem uma clara mudança de estratégia, se ficará como isso mesmo: um estatuto, que o arruinado e excêntrico fidalgo levará para a sepultura do esquecimento.
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Propaganda e poder
Ironia nestes tempos de tecnologia e falência de jornais é o poder que mantém uma manchete assertiva exposta num escaparate de quiosque.
Foto Instagram
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Miguel Relvas e o jornal Público
Os esclarecimentos de Miguel Relvas à Entidade Reguladora para a Comunicação Social não chegam para explicar algo de muito importante em todo este “caso” com o Público: como é que o líder do gabinete governamental responsável pela comunicação social, tão experiente no relacionamento com os média cai numa esparrela destas. Não me custando a acreditar nas explicações do ministro, certo é que alguma coisa correu muito mal nesta história toda: este foi um acontecimento que infringiu pesadas perdas de reputação, não só ao seu gabinete, mas a todo um governo vergado na hercúlea tarefa de executar um impopular e doloroso programa de resgate financeiro no País. Miguel Relvas conhece melhor do que ninguém as regras do jogo, os jornalistas que temos e as sensibilidades imperantes na comunicação social. E contra factos não há lamentos: falhado parece o pescador que não gosta do mar.
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O modelo de negócio e a liberdade de imprensa
A precariedade do actual modelo de negócio da imprensa “tradicional”, ainda justamente apelidada como "O Quinto Poder", ameaça e compromete um jornalismo independente dos interesses e seus "jogadores". Enquanto a publicidade na Internet não for rentável, e a prenunciada revolução dos Tablets não se tornar uma realidade, a situação tenderá a degradar-se. Porque só uma verdadeira insubmissão económica concede aos Meios uma linha editorial verdadeiramente livre e criteriosa, que implica pagar o devido valor a profissionais em quantidade e qualidade, criticamente atentos a uma realidade política tão dinâmica quanto complexa.
É neste contexto ganham poder as grandes agências de comunicação que ocupam o espaço deixado vago, e assumem o papel promovendo nas redacções leituras em defesa dos seus clientes ou leiloando escândalos dos seus adversários. Sejamos claros: se por um lado é do mais elementar bom senso o investimento numa gestão profissionalizada da imagem e reputação de qualquer agente social, torna-se cada vez mais premente uma autêntica independência dos meios face aos “actores”, para que se defendam duma relação viciosa. Mas se com isto a democracia e a liberdade de expressão são os primeiros valores ameaçados, a seguir são lesadas as próprias agências de comunicação na sua diversidade, sufocadas no mercado pelos grandes potentados e monopólios, remunerados que são pelos poderosos, sejam eles os grandes partidos políticos, bancos ou empresas na alçada estatal. Um jornalismo independente significa também a promoção da diversidade e sã concorrência, até nas imprescindíveis agências de comunicação.